Na segunda parte do vôo, consegui dormir bem. O vôo estava bem vazio e consegui deitar em três bancos e dormi com há muito tempo não dormia. Assim que cheguei ao aeroporto do Tokyo, ainda tinha mais uma etapa até Beijing, China, onde seria minha primeira parada para o primeiro workshop.
A expectativa estava grande, pois eu não tinha a mínima idéia do que esperar do público Chinês. Ainda no Aeroporto de Narita, encontrei o relações artísticas da Mapex (Miles Chen), que me acompanharia durante toda minha estada no seu País. Depois de quase 30 horas dentro de três aviões diferentes, chegamos ao aeroporto num frio de rachar até os pelos das pernas... Fazia tempo que eu não sentia tanto frio.
Miles, muito educado como sempre, me disse que os organizadores que foram nos buscar no aeroporto estavam muito felizes, pois os 250 ingressos do workshop já estavam esgotados e que iram me levar para jantar no melhor restaurante do país que tinha como especialidade PATOS. Achei que iríamos ao Outback (restaurante Australiano com franquias no mundo todo e que eu já sabia que a comida era muito boa), pois eu queria garantir que minha primeira refeição fora do Brasil fosse inesquecível... E realmente foi... No caminho, Miles ia me contando que muitas pessoas esperam até 6 meses para alugar uma mesa no restaurante e que muitas personalidades mundiais já estiveram lá e que agora não podíamos rejeitar a oferta, pois soaria muito deselegante da nossa parte. Nessas alturas o Outback já era passado e eu já estava feliz por comer um bom pato. No meio do frio tivemos que descer do carro, pois o acesso ao local era muito estreito e nenhum carro chegava lá... Conforme íamos andando comecei a sentir medo, muito medo.
Todas as cenas que eu estava vendo me levavam a crer que eu seria executado e que se existisse algum jantar, a comida seria eu!!! As ruelas me remetiam as favelas brasileiras e conforme íamos passando, os moradores iam saindo dos casebres para ver quem estava passando. Naquelas alturas, percebi que o Miles viu que eu estava um pouco assustado e tratou de me acalmar dizendo: - Não se preocupe, todos as pessoas que jantam aqui precisam fazer esse percurso. Assim que entramos no restaurante, fiquei pasmo com as fotos dos visitantes que já tinham passado por ali, tinha até uma foto do ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan.
Mesmo assim o lugar era bastante estranho e me causava medo só de pensar na comida... Não deu outra, a garçonete começou a colocar um monte de sopas de gosmas, vegetais, pães e finalmente o pato em cima da mesa. Mal eu consegui comer o pato, imaginem as outras coisas... Outra coisa bem interessante era notar que eles percebiam que eu não estava muito à vontade e por isso me mostravam como preparar as misturas e como fazer para os pratos ficarem mais saborosos... Eu olhava aprendia e fazia de conta que estava comendo, eu não podia ser tão mal educado... Finalmente acontece algo que salva a minha noite... Um cara dá um baita de um arroto na mesa se orgulhando muito do volume. Em seguida todos os outros começam a fazer o mesmo. Imediatamente cheguei à conclusão que aquilo demonstrava que estávamos satisfeitos e como bom amante e apreciador de uma boa coca-cola, soltei um belo arrotão num volume absurdo e todo mundo aplaudiu dizendo que finalmente eu havia adorado a comida... Legal tinha dado certo!!! Ficamos ali na mesa dando mais alguns arrotos e logo em seguida fomos embora no meio da névoa para o Hotel. Esqueci de dizer que o restaurante tinha cheiro de galinheiro...