(Publicado em 12/11/2008)
Para quem ainda não sabe, estou finalizando minha biografia oficial. Apesar de já ter vários capítulos no meu site oficial, essa é a primeira vez que resolvo comentar um dos trechos que estão sendo publicados como "amostras" do meu livro. Se alguém acredita que não é capaz de alguma coisa, leia esse texto e se pergunte novamente... Tenho certeza que alguma coisa vai mudar no seu ponto de vista...
Além desse texto, têm outros trechos do meu livro no meu site, visite www.aquilespriester.com e procure a seção na home do site.
Grande abraço e te vejo em breve em algum lugar! Sorte SEMPRE!
Aquiles
Trégua
Aquiles Priester não teme as dificuldades, já está habituado a enfrentá-las e vencê-las. "Não me dou por vencido, quando a dificuldade acha que ela me venceu, era só uma trégua."
"Então, de repente eu estava sem banda, sem emprego e fazendo um bico como trabalhador braçal. Foi o pior momento da minha vida. Estava com 24 anos, e certas coisas não entram na cabeça nessa idade. E teve uma coisa que foi fundamental. Eu sempre vivi muito esse lance do sonho, nunca concordei em momento algum da minha vida com aquelas pessoas que dizem que os sonhadores são as pessoas que só sonham e não as pessoas que realizam. No meu caso, eu sou uma pessoa que sonha e que faz as coisas acontecerem. Durante esses anos eu sonhava e via que progredia. Às vezes, eu tinha que rever algumas coisas pra seguir mais a frente, e mantinha muito claro na minha cabeça, a trajetória do Iron Maiden, mais especificamente a do Steve Harris, que era o cara com quem eu mais me identificava pela vontade que ele tinha de fazer a sua banda dar certo. Ele lutou contra todos e achou as pessoas que acreditaram nele e que o ajudaram a realizar seu sonho. Então, naquele ano de 95, quando eu estava com 24 anos, foi até estranho, mas eu associei isso com a vida dele. O Steve é de 1956 e com 24 anos, em 1980, ele já tinha estourado e sua carreira ia muito bem. E foi ali que baixou o meu astral mesmo, eu quase me entreguei.
Eu já estava namorando a Patrícia há três anos e tinha uma preocupação com a sociedade que estava à minha volta, ou seja, com a minha família e com a família dela. Minha sogra, dona Elizabeth, e meu falecido sogro, sr. Ailton, nunca me pressionaram. Até hoje, quando a gente está naqueles papos mais descontraídos dos encontros familiares, eu ainda tento de alguma forma saber o que minha sogra pensava daquilo naquela época e ela sempre diz que não se preocupa porque eu passava a impressão que era uma boa pessoa, e que iria dar a volta por cima e fazer as coisas acontecerem. E isso é muito bacana, a Patrícia foi uma pessoa fundamental pra mim, principalmente nessa época ruim, porque às vezes eu me pegava em umas situações de não ter dinheiro nem pra pegar o ônibus pra ir buscá-la no trabalho, inglês ou na gnose. Naquela época a gente não tinha carro ainda, mas eu sempre fazia questão de buscá-la na agência de publicidade que ela trabalhava ou nos cursos que ela estivesse fazendo. Tinha momentos em que eu dizia que não ia, porque tinha reunião pra ver se eu entrava em alguma banda, por exemplo, mas era cascata, o que eu não queria era falar pra ela que o namorado em quem ela estava investindo um relacionamento não tinha dinheiro nem pra ir buscá-la de ônibus, entendeu? Eu não cheguei a contar isso pra ela, mas aos poucos ela percebeu. A gente se via todo dia, quando eu não podia buscá-la era porque estava fazendo aula ou estava tocando com alguém, mas naquela época eu não estava fazendo nada, então poderia ir. E aquele nosso relacionamento me fazia muito bem porque era uma coisa em que eu acreditava e era o que me dava força.
Patrícia começou a perceber porque eu estava deprimido pra caramba, mal falava, comia pouco e não estava mais naquele ânimo, sabe? Eu não era mais o mesmo Aquiles de sempre. E ela foi a primeira pessoa que, de certa forma, conseguiu fazer com que eu falasse essas coisas de uma maneira que eu não me sentisse mal, porque, pela educação que eu tive, era o homem que tinha que fazer e acontecer, homem não chora, é o homem que sabe das coisas etc. Isso é algo que eu herdei do meu pai e que eu consegui mudar muito com o passar dos anos. Não que eu ache que esteja errado, mas é uma época completamente diferente, há muita diferença entre o que a gente vive hoje e o que se vivia há 25 ou 30 anos. Então, com certeza eu não estou criando meus filhos da maneira como meu pai nos criou, eu e os meus irmãos. E a Patrícia sempre soube sacar muito bem, fora a nossa parte do relacionamento de homem e mulher, tinha um esquema de sermos muito amigos e é assim até hoje. Nosso casamento nunca teve altos e baixos, a gente sempre foi super estável na vida afetiva na forma mais ampla possível.
E como se não bastasse, eu ainda tive que parar de fazer aula de bateria porque a grana acabou. E eu senti muito porque toda a parte básica eu fiz muito bem estudando e me dedicando. Quando eu falei pro Kiko que ia ter que sair porque a grana tinha apertado, eu percebi que ele sentiu muito, também. Ele disse que era uma pena, que a gente ia entrar num campo em que eu poderia realmente aplicar as coisas que tinha praticado durante todo aquele tempo. Mas eu não tinha escolha e ele também não tinha, porque é muito difícil você achar um cara que de aula e que possa simplesmente adotar um aluno. E ele também precisava da grana. Então, passei a praticar o que tinha aprendido em casa, mas não era a mesma coisa, estava muito desmotivado, me sentia totalmente perdido.
A minha família, por seu lado, nunca viu esse negócio de música como uma coisa que realmente fosse dar certo. Nunca tive nenhum tipo de desaprovação na minha casa, até porque nossa família era meio estranha, a gente não era do tipo de, por exemplo, ter um almoço de domingo de que todo mundo participasse, aquela coisa sagrada, entendeu? Isso aí nunca teve, na nossa casa sempre foi aquele entra e sai que não parava nunca. Então, esse era o tipo de coisa com que eles não se preocupavam. A única coisa que me falavam é que eu precisava arrumar um emprego. Acho que nem percebiam que eu estava pra baixo, até porque eu ficava muito tempo dentro do meu quarto, que era onde eu estudava, que era onde eu ficava lendo as revistas de heavy metal da época e alimentando os meus sonhos, além de recortar as coisas mais importantes e coloca-las nas portas dos armários. A minha mãe percebia a minha depressão algumas vezes, mas ela percebeu mais na época em que eu me mudei de Foz do Iguaçu para Porto Alegre, naquela época eu fiquei muito mal mesmo. Mesmo encontrando a Patrícia e dando umas voltas, essa foi uma época muito ruim na minha vida. Não gosto nem de lembrar... E o estudo nem funcionava como válvula de escape porque não tem nada pior do que você falar que acredita em uma coisa, mas não conseguir aquilo e perceber que a cada dia está mais longe do seu sonho."
Circe Brasil.