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Por Alessandro Marques

Em 1999, reencontrei o Eduardo Martinez em Porto Alegre, depois de uns 5 anos sem vê-lo e ele me disse: "Cara, estou fazendo um teste para uma banda de metal muito foda, os caras estão me tirando o couro". Era o início da formação de um grupo de instrumentistas muitíssimo competentes e dedicados: o Hangar. Em 2000, Martinez e eu nos tornaríamos colegas no curso de bacharelado em Música pela UFRGS e comecei a ter notícias mais freqüentes de suas peripécias. Pelo site da banda, todos os dias eu me atualizava sobre as novidades até que, no fim do ano passado, o Martinez me falou que haviam encontrado um novo vocal, o que me deixou curioso, pois não conhecia o Nando Fernandes. Martinez me deu as referências e fui na busca pelos trabalhos do cara. Quando ouvi alguns dos feitos do Nando pensei: "Acharam a tampa da panela".

No último domingo, dia 08/07, fui a SP por um motivo muito especial: participar da audição em primeira mão do novo disco do Hangar, "The Reason Of Your Conviction". Excelente motivo para ir a SP pela primeira vez. Feito o translado Três Coroas RS / São Paulo SP, eu esperava ansioso pelo momento, no hotel. Chegada a hora, me dirigi ao Estúdio Garage, na Mello de Oliveira e, chegando lá, conheci de cara um dos participantes da audição vindo de Guarulhos. Ele achou meio loucura eu ter vindo do RS especialmente para a audição, então expliquei a ele: no ano de 1991 ou 1992 (não lembro bem), estive no extinto Porto de Elis (Porto Alegre), onde o Sepultura lançava seu primeiro Videoclipe e acabava de chegar de sua primeira e bem sucedida turnê pelo exterior. Esse foi um fato marcante em minha vida, participar de um evento que ficaria na história do metal (O Martinez e o Aquiles também estavam lá naquele dia!!) e por isso me sentia na obrigação de participar de mais este momento histórico, pois, mesmo tendo ouvido apenas aqueles 19 segundos de um trecho da mix na Alemanha (YOUTUBE), tinha certeza do que estaria por vir.

Após a gravação de uma entrevista para a TV Japonesa IPC, fomos convidados para entrar. Sem muita demora, com a introdução do Nando Fernandes, os músicos foram sendo apresentados, naquele senso de humor tradicional da banda. Agradecimentos sinceros a todos presentes (até fui citado em particular, galera!!), aos envolvidos no projeto e principalmente a seus familiares. Aquiles comandou a apresentação; Falou de toda a dedicação (artística, emocional e financeira) que a banda despendeu neste trabalho e assim iniciou a audição. Na introdução já aparecia a primeira grata surpresa: uma narração de Arnaldo Antunes de muito bom gosto (quanto a participação do Arnaldo, sem galho Aquiles disse: profissional não tem rótulo, rótulo é coisa de supermercado, hehehe) e as pedradas vieram em seqüência. Como numa suíte conceitual neo-romântica, foram quatro movimentos sem tempo pra respiração e o mais curioso era perceber o nervosismo dos integrantes caminhando a nossa volta pra ver nossa reação, pois, afinal de contas, por mais profissional, perfeito e or concur que seja o artista, ele sempre desconfia: "Fizemos e gostamos, mas e a platéia vai curtir?" Fiquem frios caras, pois o disco é um massacre sonoro!!!

Após a primeira audição, o cd ficou rodando em outro equipamento menor e ouvi coisas que na primeira audição não percebi facilmente, tamanha a quantidade de detalhes. Como numa pintura de Salvador Dali ou num fonograma de Richard Wagner, existem dezenas de segredos escondidos que conectam esta obra conceitual, que tem como tema o conflitante histórico psicológico de um serial killer (pelo menos foi o que notei neste primeiro contato). A parte rítmica do disco com certeza fez o esqueleto de Stravinsky se revirar umas trocentas vezes em sua esquife. Como os músicos disseram no início da audição, podem ser percebidas características vindas da bagagem musical de cada um, como por exemplo, as bases com acordes pedais da extinta Panic, mas tudo muito bem diluído. O risco de tudo isso virar uma colcha de retalhos é superado pela incrível "cola" que liga todos os instrumentos, dando a visão geral de uma obra complexa sim, mas muito fechada dentro de seu contexto.

O talento e a inegável técnica dos músicos (indiscutível) esteve sempre em segundo plano, sendo usados não como fim, mas como meio para transformar este disco numa obra prima do metal e para lançar a Hangar definitivamente entre as bandas do primeiro escalão do metal mundial, sem nenhuma dúvida. NOTA PRO DISCO: 1 Google na potência Google.

Bom, depois da audição assistimos ao divertido making of do clip e finalmente ao clip, que ficou também fora de série...Depois de tudo visto e ouvido, fomos conversar com a banda e desfrutar do coquetel. A conversa foi muitíssimo produtiva e acabei conhecendo caras que só tinha ouvido falar, como o Heros (Mr. Som) e o Ricardo Zupa, caras muito simples e extremamente amigáveis. Mas a noite não poderia terminar sem uma gafe do gaúcho aqui: ao me despedir de todo mundo, na saída o Heros me apresentou ao Pompeu e eu o confundi com o vocal do Torture Squad !!!! que merda!!!! Logo eu que assisti ao show de lançamento do disco do Korzus "Mass Ilusion" em POA fui fazer uma dessas. DESCULPA AÍ POMPEU!! Quando eu estiver aí no Mr. Som com a minha banda, te pago uma cerva, mas tem que ser POLAR...