
Um prefácio para a sua mente...
“De alguma forma, a dor de dentro dos seus olhos é apenas o começo...”
Essa frase dá início a uma história fictícia, em que qualquer semelhança com alguma história real será mera coincidência. O disco The Reason of your Convicition, é conceitual e conta a história de uma pessoa comum que, após ter ficado adormecida por três dias, sente algumas perturbações mentais e resolve mudar completamente sua vida, buscando novas aventuras e tentando ter novas sensações. Durante esse sonho, vozes o ensinam todas as frases secretas para sua vida fazer algum sentido. Essas frases estão incompletas e seu complemento deverá se encontrado através das experiências vividas pelo personagem principal. Após o sonho, tudo pode ser visto de uma outra maneira e não só ele percebe que agora não é mais a mesma pessoa como todos que estão à sua volta também percebem isso.
Agora, tudo faz mais sentido, pois cada ato desse mundo psicótico está ligado àquelas frases e a cada vez que ele encontra as palavras para finalizar e dar sentido para alguma frase, logo se lembra do sonho, que foi o momento em que essas frases foram colocadas em sua mente pela primeira vez – como se fosse um quebra-cabeça que pode ser montado ao longo de uma vida. No decorrer da história, ele começa a acreditar que quando se tira a vida de alguém isso pode ser canalizado para um campo onde o entendimento do homem ainda não é pleno, canalizando todo o poder da vida para si mesmo. Cada passo é minuciosamente estudado e agora sua ligação com suas vítimas não faz mais parte do mundo onde as coisas podem ser explicadas. Num certo momento, a sensação que o personagem tem é que, para vivenciar esse tipo de situação, ele precisa estar pronto para viver num mundo distante do real, no qual tudo que imaginamos pode ser vivido, mesmo que de uma forma particular e secreta. A linguagem é bem abstrata e não tem nada muito explícito e rude.
De acordo com a visão do personagem principal, existem coisas que só podemos sentir e enxergar quando estamos tomados pela adrenalina e sem ter noção do que estamos fazendo – ou seja, quando à razão dá espaço para a emoção. Dessa forma, a emoção também faz sua parte da história, para que todo mundo possa se identificar de alguma forma com a trajetória caótica do personagem.
Quem de nós já não se imaginou na pele de um personagem de algum filme? Quem já não se imaginou contracenando com um ator e tentado mudar o final de uma história? Assim, você, como ouvinte, tem seu papel nessa história, que é interpretar cada letra, cada harmonia, cada melodia, cada arranjo e cada música, imaginando tudo isso da sua forma e fazendo com que essa história seja apenas o começo do seu mundo de tentativas para novas descobertas, seja elas quais forem! Desafiem a mente de vocês, tenho certeza que vocês irão se surpreender!
De alguma forma, todas as cenas, pensamentos e imaginações que se passaram pela sua mente enquanto você lia esse texto são apenas o começo...
Aquiles Priester
Release:
Quem já tem certa experiência no maravilhoso mundo do heavy metal não encontra grande dificuldade para entender qual a intenção que um disco traz em si – porque os discos têm, sim, algumas intenções além de simplesmente divulgar a música do artista. E a intenção de terceiro disco da banda Hangar é claramente elevar o grupo para os níveis mais altos de projeção dentro da cena do metal mundial.
Afinal, tudo no disco aponta para esse objetivo. Começando pela temática que envolve o disco – já que é o primeiro trabalho conceitual lançado pela banda – “The Reason Of Your Conviction” se sai muito bem desse desafio, já que traz em si um muito bem-vindo conceito com bastante conteúdo. Por que não paramos para pensar, de vez em quando? Esse parece ter sido o princípio do qual a banda partiu para contar a história de um sujeito que, após ficar três dias adormecido, começa a sofrer alucinações e entra num mundo de questionamentos e reflexões. Dor e alegria, sonho e realidade, sofrimento e paz, culpa e punição, amor e ódio se misturam ao longo de uma história que consegue ser concreta e abstrata ao mesmo tempo, além de trazer um final inesperado – afinal, alguém já disse que toda história tem que ser bem contada. A de “The Reason Of Your Convicition” é como aquele livro que te faz virar a noite grudado nele, querendo saber como termina. Só que de nada adiantaria isso se as letras não fossem bem tramadas e bem construídas. Basta dar uma lida nelas para perceber que Aquiles Priester dedicou-se com afinco a essa tarefa.
Porém, não estamos falando só de história, mas sobretudo de música. E ela surge aqui em sua plenitude, executada por cinco músicos que sabem de cor tudo o que deve ser feito para impressionar positivamente o ouvinte. Eduardo Martinez, guitarrista que tem desenvoltura de sobra em estilos que vão do thrash metal ao erudito, coloca todo seu virtuosismo a serviço do feeling; Fábio Laguna mostra para quem ainda não sabia que os teclados, quando utilizados por quem entende do instrumento, podem ser colocados a serviço de riffs e licks pesados; o baixista Nando Mello ora se une à bateria para trabalhar o ritmo, ora dobra várias frases e riffs com a guitarra, mostrando que versatilidade é palavra de ordem aqui; já Aquiles Priester só precisa ser apresentado para quem não sabe o que significam “bateria” e “heavy metal”. Sua performance, elevada a níveis quase impossíveis de descrever em termos de pegada, peso, velocidade, versatilidade e técnica, é um dos pontos altos do disco – assim como já ocorrera nos dois trabalhos anteriores da banda, “Last Time” (1999) e “Inside Your Soul” (2001). Além disso, Aquiles mostra que a palavra “percussão”, que muitas vezes fica sem sentido nas fichas técnicas, aqui se aplica muito bem – é só notar como o ritmo, de um modo geral, tem enorme importância no disco.
Por fim, nos vemos diante do novo integrante do grupo, o vocalista Nando Fernandes, que é conhecido e reconhecido como um dos principais vocalistas brasileiros. E em um grupo formado por músicos do gabarito de Eduardo, Fábio, Nando Mello e Aquiles, ele conseguiu sintetizar tudo que a banda precisava com seu vocal repleto de técnica e feeling, além de se mostrar um intérprete no mais amplo e verdadeiro sentido da palavra. Sua enorme experiência como vocalista de diferentes estilos de rock conferiu a ele a bagagem suficiente para desempenhar seu papel com extrema competência, transformando-o no vocalista que o Hangar sempre precisou.
A parte técnica de “The Reason Of Your Convicition” também recebeu cuidados milimétricos. A gravação aconteceu no estúdio Mr. Som, em São Paulo, e teve mixagem e masterização de Tommy Newton, que produziu os dois primeiros volumes de Keeper Of The Seven Keys, do Helloween, e discos de bandas como ARK, Conception e UFO. O trabalho de Tommy foi realizado no Studio Area 51, em Celle, na Alemanha, e conseguiu privilegiar todos os inúmeros aspectos positivos que envolvem o disco.
Após uma introdução narrada por uma voz feminina (de Antoniela do Canto, que é a principal locutora da emissora por assinatura HBO) e outra masculina (a cargo do ex-titãs Arnaldo Antunes), começa The Reason Of Your Conviction, power metal de vocal rasgado e teclados inteligentes. Hastiness vem a seguir, mostrando que peso e virtuosismo não são palavras incompatíveis. A lenta e pesada Call Me In The Name Of Death é a próxima, com destaque para a interpretação de Nando Fernandes, que explora outras regiões de sua voz. Forgive The Pain, ao mesmo tempo pesada e melódica, tem os teclados no comando, disparando riffs como se fosse uma guitarra. Os backing vocals também acertam na mosca. Mais rasgada é Captivity, que também traz uma harmonia menos convencional. A aposta no peso e nos vocais altos e rasgados é a principal característica de Forgotten Pictures, que tem possivelmente o refrão mais grudento do disco. Everlasting Is The Salvation começa com alguma ousadia do convidado Vitor Rodrigues, da banda de death metal Torture Squad, nos vocalises (ele também participa da faixa Hastiness) e depois se transforma num tema cadenciado que dá o devido destaque à eficientíssima cozinha da banda. Movida a um riff grudento, One More Chance traz um bem-vindo clima setentista ao disco, graças ao timbre dos teclados e à linha vocal. Por fim, When The Darkness Takes You fecha o disco em grande estilo, comandada por riffs circulares de guitarra e baixo que destilam peso e dramaticidade.
A primeira música a ganhar um videoclipe foi Call Me In The Name Of Death. Mas ninguém precisa ficar cruzando os dedos para algum programa de TV resolver exibi-lo: o disco vai sair em todo o mundo com o clipe de bônus – e, de quebra, o making of dele também estará no CD.
“The Reason Of Your Convicition” é um disco que pode ser interpretado de várias formas, principalmente porque são inúmeras as características que o compõem. Flertando com várias tendências e levando a capacidade técnica de seus músicos a extremos, o álbum jamais fica em cima do muro, preferindo mostrar uma cara e uma identidade totalmente próprias. Em vez de se acomodar na mesmice, o Hangar preferiu subverter algumas regras e se atirar de cabeça em aspectos tão esquecidos pelo heavy metal dos dias antissépticos em que vivemos, como ousadia, técnica e feeling. Como já vimos, com “The Reason Of Your Convicition” o Hangar resolveu saltar para os níveis mais altos de projeção dentro da cena do metal mundial. É quase impossível que não consiga.
Um comentário:
[priscilla mamus]
E você... já fez a sua interpretação!?!?!?hehehe... Cada vez q vejo algo sobre esse CD percebo o quanto valeu todo o esforço.... tudo é muito merecido!! A tendência é só aumentarem os elogios e o número de fãs!! Não vejo a hora de ver p making of novamente!! é muito engraçado!!
26/11/2007 13:09
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